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Bullying, violência na escola, câncer e exclusão: proteger é responsabilidade de todos

  • Foto do escritor: Ellen Fernandes
    Ellen Fernandes
  • 7 de abr.
  • 4 min de leitura


O dia 7 de abril marca o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola. Essa é uma data fundamental para reforçar que o ambiente escolar deve ser um espaço de aprendizagem, convivência e acolhimento — mas, infelizmente, nem sempre é assim.


Para muitas crianças e adolescentes, a escola também pode se tornar palco de exclusão, humilhações e até de violência emocional ou física. Essa violência, por vezes sutil aos olhos de quem observa de fora, deixa marcas profundas em quem a sofre.


Quando o câncer e o preconceito se encontram na escola


Quando falamos de crianças com câncer, a realidade pode se agravar ainda mais. Os efeitos do tratamento, como a perda de cabelo, o uso de máscaras ou limitações físicas, infelizmente ainda podem ser motivo de bullying e violência escolar.


Crianças e adolescentes em tratamento já enfrentam uma rotina difícil — internações, dores físicas, medicações fortes e afastamento da rotina escolar. O que muitas vezes não esperam enfrentar é o preconceito vindo justamente de seus colegas.


O caso da jovem Sinead Zalick, de 12 anos, diagnosticada com câncer de ovário, ilustra isso. Ao retornar às aulas usando peruca, passou a sofrer bullying e isolamento. A tristeza e o sofrimento a fizeram rejeitar a escola, até que sua família descobriu o que estava acontecendo. O caso ganhou repercussão internacional e acendeu o alerta: as escolas precisam estar preparadas para lidar com a diversidade e fragilidade de seus alunos.

Sinead Zalick sorrindo. (Foto: Jodie Clarke)
Sinead Zalick sorrindo. (Foto: Jodie Clarke)

Bullying precisa ser tratado com seriedade


Dar apelidos, zombar da aparência, usar colegas como alvo de piadas: essas atitudes, muitas vezes naturalizadas como “brincadeiras”, são formas de violência e configuram uma violação dos direitos da criança e do adolescente.

O bullying vai além das agressões físicas. Inclui:

  • Apelidos maldosos

  • Humilhações

  • Exclusão social

  • Piadas ofensivas

  • Perseguições


Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) 2019, realizada pelo IBGE:

-Quase 1 em cada 10 estudantes (9,7%) relatou sofrer bullying com frequência;

-Os principais motivos foram: aparência física (17,5%), cor ou raça (7,1%) e orientação sexual (2,6%).


Esses dados revelam como o bullying está profundamente ligado a preconceitos estruturais como racismo, gordofobia, LGBTfobia e capacitismo. Isso exige políticas públicas efetivas e ações educativas contínuas nas escolas. O Relatório Educação em Alerta (2023), da Unicef em parceria com o CENPEC, também reforça:

-21% dos estudantes do 9º ano já sofreram bullying na escola;

-No ensino médio, 23% presenciaram ou vivenciaram exclusão ou intimidação por parte de colegas.


A escalada da violência online


O problema não se limita às salas de aula. O cyberbullying, com ataques virtuais, cresce ano após ano. Um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Enfermagem da UFMG e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou prevalência de 13,2% de jovens vítimas de cyberbullying. O levantamento contemplou amostra de 159.245 estudantes de 13 a 17 anos do ensino fundamental e médio de escolas públicas e privadas.


A internet amplia o alcance da violência e dificulta o controle dos danos. Muitas vezes, crianças que enfrentam bullying digital se sentem sozinhas, culpadas e sem saber a quem recorrer.


Quando o corpo fala o que a criança não consegue dizer


Nem sempre as vítimas conseguem verbalizar o sofrimento que vivem. Por isso, é essencial que educadores, responsáveis e profissionais de saúde fiquem atentos a sinais como:


Medo de ir à escola ou fobia escolar;

Isolamento, apatia ou agressividade;

Queda no desempenho acadêmico;

Ansiedade, pânico, dores de cabeça ou mal-estar recorrente sem causa médica;

Perda frequente de objetos (que na verdade podem ter sido tomados);

Mudanças repentinas de humor;

Marcas no corpo escondidas por roupas inadequadas ao clima (como moletons no calor);

Busca por amizades fora da escola.


Esses sintomas, quando ignorados, podem causar danos duradouros à saúde mental infantojuvenil.


Rede de proteção: escola, família e sociedade juntas

Fazer parte dessa rede de proteção é um compromisso coletivo. Seja como educador(a), pai/mãe, responsável, profissional de saúde ou cidadão, cada um de nós pode contribuir.rERr
Fazer parte dessa rede de proteção é um compromisso coletivo. Seja como educador(a), pai/mãe, responsável, profissional de saúde ou cidadão, cada um de nós pode contribuir.rERr

Fazer a diferença começa com a escuta e o olhar atento. E para isso, precisamos que escolas, famílias e toda a sociedade estejam preparadas para identificar vulnerabilidades, agir com responsabilidade e promover um ambiente seguro e inclusivo para todas as crianças e adolescentes.


Entre as muitas realidades que exigem atenção especial, está a das crianças com câncer. A jornada do tratamento é desafiadora e impacta profundamente a vida escolar, social e emocional desses pequenos. Por isso, é fundamental que a escola esteja preparada para recebê-los com empatia, respeito às suas necessidades específicas e com adaptações que garantam sua inclusão e bem-estar. A AACC trabalha para conscientizar sobre essa realidade, combater o preconceito promover a inclusão. Toda criança tem o direito de aprender, brincar, ser acolhida e tratada com dignidade — independentemente de sua condição de saúde.


Durante o Seminário de Enfrentamento à Violência nas Escolas, realizado em 2024 pelo Conselho Municipal do Direito da Criança e do Adolescente de São Paulo (CMDCA-SP), diversas práticas foram destacadas como fundamentais para enfrentar o bullying e a violência nas escolas, o relatório do evento destaca algumas maneiras de como todos e todas podem fazer parte da rede de proteção:

Incentivar o Diálogo

Estimule crianças e adolescentes a falarem sobre o que sentem e vivenciam. Isso ajuda a identificar problemas logo no início.

Identificar Precocemente

Observe mudanças de comportamento. Pequenos sinais podem indicar situações que levam à violência.

Escuta e Orientação

Ofereça um espaço seguro para que se expressem e oriente sobre atitudes positivas no dia a dia.

Evitar o Punitivismo

Evite punições excessivas. Priorize acolhimento e reforço positivo para desencorajar atitudes violentas.

Cooperação Família-Escola

Família e escola devem atuar juntas para prevenir e intervir em comportamentos preocupantes.

Saúde Mental

Compreenda os fatores por trás de comportamentos agressivos. Promova acolhimento e incentivo à expressão pessoal.


O relatório completo você pode acessar aqui:



A proteção é responsabilidade de todos


Na AACC (Associação de Apoio à Criança com Câncer), trabalhamos diariamente para garantir que crianças e adolescentes em tratamento tenham acesso à saúde, educação e bem-estar.


Mas para que essas crianças tenham uma infância digna, é preciso que o mundo ao redor — inclusive as escolas — esteja preparado para acolhê-las. O combate ao bullying e à violência não depende apenas de uma instituição. É uma tarefa coletiva. Que possamos construir juntos uma cultura de respeito, inclusão e empatia, em todas as etapas da vida. Em especial, para que nossas crianças e adolescentes possam crescer em espaços seguros e acolhedores.



 
 
 
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